sexta-feira, dezembro 19, 2008

Para os alunos de cinema

Já estava consciente há algum tempo quando me levaram ao Hospital Regional Sul. Se em hospitais particulares, limpos, organizados, a morte ainda parece vagar, no hospital público ela marcha sem discrição, inferno, se ostenta como se ainda vivesse numa cidade medieval assolada pela peste. Estava sóbrio, de qualquer forma. Havia lá uma decoração de Natal que, por motivos que já exporei, descobrir se tratar de letrinhas formando palavras anacrônicas como "esperança", "prosperidade", "saúde", etc, sobre chapas de radiografia recortadas e penduradas no teto. O efeito de ver uma caveira ou algumas vértebras junto às palavras de conforto meramente formais e vestigiais era de uma ironia e tetricidade que me invejou, devo confessar. Quase rio e racho meus coágulos. Como adiar a morte sem ajuda de Spera, que aquece as almas e as impede de parar...

segunda-feira, junho 16, 2008

Uma viagem

Minha viagem ao infinito foi, a princípio, fruto de mera curiosidade matemática. Sempre quis ver duas retas paralelas se cruzando, e sempre soube que isso ocorreria no infinito.

Sabia que o infinito fica longe. Infinitamente longe. Então peguei um lápis azul e outro vermelho, só para fazer contraste, e comecei a traçar duas retas paralelas. Fui traçando por um bom tempo. Um tempo infinito. Até que, de repente, elas se cruzaram. Pensei: “é aqui”.

Estava no infinito. Acho que é um dos lugares mais fascinantes que visitei até hoje. Olhava ao redor e via coisas que jamais teria visto em outro lugar. Além do cruzamento das retas paralelas vi, ao meu lado, uma parede, um muro escuro. Era infinitamente grande em todas as direções e infinitamente pequeno ao mesmo tempo. Havia uma plaquinha pendurada, onde lia-se “fim do espaço”. Vi também o resulatdo de um dividido por zero. Era infinito! Pelas redondezas havia uma pista de corrida. Me aproximei e qual não foi minha surpresa ao ler, numa pedra em frente ao velódromo, os dizeres “Memorial de Aquiles e a Tartaruga”. Naquele lugar, Aquiles e a Tartaruga haviam empatado. Uma lágrima brotou em meu olho esquerdo.

Fiquei preocupado pois meu trajeto fora longo e eu não havia avisado ninguém a respeito da viagem. Poderiam estar aflitos com minha ausência prolongada. Olhei no relógio. Os ponteiros rodavam loucamente, apesar de estarem parados. Foi então que me dei conta de que o fim dos tempos era lá. Não havia por que me preocupar.

De qualquer forma, julguei que era hora de voltar. Tirei uma fotografia das retas se cruzando, do Memorial, do muro, do resultado de um dividido por zero e peguei o caminho da roça. Na saída do infinito, tropecei na partícula indivisível da matéria. Infinitamente pequena. Infinitamente dolorida.

Xinguei e andei até chegar em casa, na hora em que havia saído.

quarta-feira, junho 04, 2008

A Floresta Submersa

Minha auto-crítica adverte que não tenho qualquer pretensão de escrever em inglês. Tratava-se de uma mera redação que devia ser feita na língua de Shakespeare, Robert Wyatt e Bob Dylan acerca do lugar mais remoto a que já fora. É a Amazônia na época de cheia. Se o Luiz não tivesse aprovado, provavelmente nem me daria ao trabalho de publicá-la. É uma descrição. Tem uma penca de palavras repetidas. Poderia ter feito com mais capricho e enfatizado algum estilo. Nem parnasiano deve ser. Mas como faz algum tempo que não homenageio as redações de escola, por quê não? Espero (esperemos) que o Luiz esteja certo.

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"The most far-flung place I have ever been to is, most likely, Amazon. We couldn't sleep in the jungle, of course, nor did we spend the nights at the community that we were visiting. We would sleep on a boat, in the river or some marsh, thus we'd have the impression of waking in the sea, so vast and enormous we couldn't see both banks (if any) at the same time. And, at night, the Milky Way would be sprayed in the sky, something pollution and electric light took from our sight and hadn't yet reached Amazon. Saying it is gorgeous, amazing, unusual, etc, etc, etc, is unnecessary. Or perhaps we thought so because we had never seen it before. We would bathe in the river itself at the sunset (yet another beauty was to see the sun diving), and I still imagine a sunken forest far below the water: patient trees waiting the dry season to allow them to surface again. The forest is, needless to say, something else. The most striking feeling was that you could walk forever and never find a way out. There was hardly any wind, the sun would often be eclipsed by the oh-so-many trees. What would we find at the darkness as black as a man's soul, I can't even wonder (albeit it cannot be more frightening than something that has come from our imagination, can it?). I would not be surprised if your dreams get more and more unusual there. I know mine did try to explore the mysterious forest that creeps inside anybody's thoughts and curiosity. I am afraid it is impossible to satisfy this curiosity: the mysteries must be infinite. Thousands and thousands of secrets by square meter, what a wonder is it. Perhaps I understand why people describe the trip to Amazon as a return to our animal origins... everyone keeps their own sunken forests beneath the tiny surface of consciousness."

segunda-feira, maio 12, 2008

Maioridade e Iconoclastia (Incluindo "o Rascunho")

-"Vim matar você", disse
-"Não sou importante o suficiente para conversar com meu assassino."
-"Eu o farei." sempre impaciente
-"Quem me garante" hesita "que destruirá o homem?"
-"Você."
-"Não tenho certeza?"
-"Se deixar violentar, como violentou minha mãe, é parte do processo de tornar-se um ídolo."
-"Como pode me matar, seu ídolo?"
-"Ídolos não morrem. O homem eu matarei."
-"E como devo chamá-la, então?" o sangue e seu livro se espalham.
-"Prima." disse Prima "O homem, os pecados e os segredos são perdoados, de tão breves."
-"Obrigado."
-"Não por tão pouco que lhe fiz."

terça-feira, fevereiro 12, 2008

Inspiração de Cordel

"Batatinha, quando nasce,
espalha rama pelo chão.
Menininha, quando dorme,
põe a mão no coração".

Certas coisas são escritas
sem um pingo de noção.
Do poema da batata
até o funk batidão.

O homem sofre o tempo todo
e reclama: "mundo cão!"
Mas ninguém levanta um dedo
pra mudar a situação.


(Da série: "Compostos na Privada")

24/1/2008

Eine Kleine Comentário

Voltei, meus leitores (se é que vocês existem). Depois do pretensioso e ridículo poema que postei da última vez, apresento-lhes estas poucas e despretensiosas linhas. Nem é pra levar muito a sério. Werk ohne Opuszahl.