segunda-feira, fevereiro 23, 2009

Parênteses.

Leitores deste blog (espero que vocês existam),

Publiquei essa semana o texto abaixo, Gesualdo, e não sei se ficou bom. Por isso, gostaria de fazer um apelo pela sinceridade nos comentários das minhas postagens (não sei se os outros blogueiros compartilham dessas idéias, mas eles podem se manifestar a respeito depois). Então se algum leitor achar alguma coisa (qualquer coisa) de algum texto meu, por favor, comente. Seja boa ou ruim, vá em frente, sem medo de ofender.

Digo isso por dois (ou mais) motivos, a saber:
Em primeiro lugar, escrevi o último texto à noite, com sono e numa tacada só. Nem reli antes de publicar. Só fiz isso agora e achei que alguma coisa saiu errada, e queria saber dos leitores o que eles acham.

Em segundo lugar, estava lendo um blog de poesias agora há pouco, quase sem comentários, e era uma caca. Pretensioso e tosco. Talvez se alguém avisasse o dito cujo ele melhoraria um pouco a coisa toda. E eu posso estar sendo tosco e pretensioso (mal e mal me conheço, e sei que escrevo muita bobagem sem perceber).

Por favor, não me deixem publicar tosquices. Se eu o fizer, avisem! Se estou publicando na internet é porque quero que as pessoas leiam e achem alguma coisa. Ficarei feliz se gostarem, mas acharei muito legal se as pessoas considerarem algum texto uma grande merda e explicarem isso. Vale, inclusive, correção gramatical.

Por favor, atendam a este apelo desesperado e, pelo bem ou pelo mal, comentem.

sexta-feira, fevereiro 20, 2009

Gesualdo

A porta rangia toda vez que era aberta. Um ruído ácido e dolorido, para lembrar que, apesar do silêncio da madrugada, as orelhas ainda estavam bem presas à cabeça dos que passavam.
Mas ele estava surdo. Sabia o que estava acontecendo. Sabia o que ia encontrar atrás do rangido das dobradiças velhas. Não era uma questão de ciúme.
Eis que a dobradiça se torna música, com seu timbre alto, com seu gemido trabalhoso. E a faca e a arma de fogo saem sabe-se lá de onde (mas haviam sido guardadas sob a roupa dele premeditadamente), e as mãos, e o sangue, e os gritos. Ah, os gritos. ah os gritos...
Mas naquela hora não era só surdez. Era cegueira, era descontrole. A faca subia e descia sozinha (mas a mão que a acompanhava sabia o que estava fazendo).
E a mulher deitada em cima da cama, nua, esfaqueada. O homem vivo, veste a roupa dela, veste, desgraçado, veste antes de morrer. E depois o homem também estava deitado, ao lado da mulher, vestindo sua camisola, morto. morto.
E os servos da casa sabiam, todos sabiam, menos o bebê, que chorava, que chora até agora, que não pára de chorar, não quer parar! Ele sacode o berço com vigor. Não é dele, o choro não é dele, o choro é do homem vestido de mulher. Ele sacode, o homem chora, a voz do bebê é a voz do homem. Por fora o bebê pára de chorar, pára de respirar, mas por dentro o homem ainda chora.
O rangido da dobradiça, o grito da mulher, o choro do homem. Música.