É fria como a noite
e dourada como o dia.
Deixa a gente alegre
qual serelepe menina.
Vamos à Prainha
para a breja matutina
Opaca como o futuro;
qual o presente, cristalina.
Lenta e rápida: é a lesma
e é a ave de rapina.
Vamos à Prainha
para a breja matutina
É grande como o Espaço,
como a Terra é pequenina.
Obedece como a puta
e manda como a cafetina.
Vamos à Prainha
para a breja matutina
É o vírus da doença
e da doença é a vacina.
É mansinha, sendo besta,
e, sendo mansa, ferina.
Vamos à Prainha
para a breja matutina
É lá fora que o Sol brilha
e que a Lua me ilumina
e que o tempo começa
e que o tempo termina.
Vamos à Prainha
para a breja matutina
domingo, maio 03, 2009
segunda-feira, fevereiro 23, 2009
Parênteses.
Leitores deste blog (espero que vocês existam),
Publiquei essa semana o texto abaixo, Gesualdo, e não sei se ficou bom. Por isso, gostaria de fazer um apelo pela sinceridade nos comentários das minhas postagens (não sei se os outros blogueiros compartilham dessas idéias, mas eles podem se manifestar a respeito depois). Então se algum leitor achar alguma coisa (qualquer coisa) de algum texto meu, por favor, comente. Seja boa ou ruim, vá em frente, sem medo de ofender.
Digo isso por dois (ou mais) motivos, a saber:
Em primeiro lugar, escrevi o último texto à noite, com sono e numa tacada só. Nem reli antes de publicar. Só fiz isso agora e achei que alguma coisa saiu errada, e queria saber dos leitores o que eles acham.
Em segundo lugar, estava lendo um blog de poesias agora há pouco, quase sem comentários, e era uma caca. Pretensioso e tosco. Talvez se alguém avisasse o dito cujo ele melhoraria um pouco a coisa toda. E eu posso estar sendo tosco e pretensioso (mal e mal me conheço, e sei que escrevo muita bobagem sem perceber).
Por favor, não me deixem publicar tosquices. Se eu o fizer, avisem! Se estou publicando na internet é porque quero que as pessoas leiam e achem alguma coisa. Ficarei feliz se gostarem, mas acharei muito legal se as pessoas considerarem algum texto uma grande merda e explicarem isso. Vale, inclusive, correção gramatical.
Por favor, atendam a este apelo desesperado e, pelo bem ou pelo mal, comentem.
Publiquei essa semana o texto abaixo, Gesualdo, e não sei se ficou bom. Por isso, gostaria de fazer um apelo pela sinceridade nos comentários das minhas postagens (não sei se os outros blogueiros compartilham dessas idéias, mas eles podem se manifestar a respeito depois). Então se algum leitor achar alguma coisa (qualquer coisa) de algum texto meu, por favor, comente. Seja boa ou ruim, vá em frente, sem medo de ofender.
Digo isso por dois (ou mais) motivos, a saber:
Em primeiro lugar, escrevi o último texto à noite, com sono e numa tacada só. Nem reli antes de publicar. Só fiz isso agora e achei que alguma coisa saiu errada, e queria saber dos leitores o que eles acham.
Em segundo lugar, estava lendo um blog de poesias agora há pouco, quase sem comentários, e era uma caca. Pretensioso e tosco. Talvez se alguém avisasse o dito cujo ele melhoraria um pouco a coisa toda. E eu posso estar sendo tosco e pretensioso (mal e mal me conheço, e sei que escrevo muita bobagem sem perceber).
Por favor, não me deixem publicar tosquices. Se eu o fizer, avisem! Se estou publicando na internet é porque quero que as pessoas leiam e achem alguma coisa. Ficarei feliz se gostarem, mas acharei muito legal se as pessoas considerarem algum texto uma grande merda e explicarem isso. Vale, inclusive, correção gramatical.
Por favor, atendam a este apelo desesperado e, pelo bem ou pelo mal, comentem.
sexta-feira, fevereiro 20, 2009
Gesualdo
A porta rangia toda vez que era aberta. Um ruído ácido e dolorido, para lembrar que, apesar do silêncio da madrugada, as orelhas ainda estavam bem presas à cabeça dos que passavam.
Mas ele estava surdo. Sabia o que estava acontecendo. Sabia o que ia encontrar atrás do rangido das dobradiças velhas. Não era uma questão de ciúme.
Eis que a dobradiça se torna música, com seu timbre alto, com seu gemido trabalhoso. E a faca e a arma de fogo saem sabe-se lá de onde (mas haviam sido guardadas sob a roupa dele premeditadamente), e as mãos, e o sangue, e os gritos. Ah, os gritos. ah os gritos...
Mas naquela hora não era só surdez. Era cegueira, era descontrole. A faca subia e descia sozinha (mas a mão que a acompanhava sabia o que estava fazendo).
E a mulher deitada em cima da cama, nua, esfaqueada. O homem vivo, veste a roupa dela, veste, desgraçado, veste antes de morrer. E depois o homem também estava deitado, ao lado da mulher, vestindo sua camisola, morto. morto.
E os servos da casa sabiam, todos sabiam, menos o bebê, que chorava, que chora até agora, que não pára de chorar, não quer parar! Ele sacode o berço com vigor. Não é dele, o choro não é dele, o choro é do homem vestido de mulher. Ele sacode, o homem chora, a voz do bebê é a voz do homem. Por fora o bebê pára de chorar, pára de respirar, mas por dentro o homem ainda chora.
O rangido da dobradiça, o grito da mulher, o choro do homem. Música.
Mas ele estava surdo. Sabia o que estava acontecendo. Sabia o que ia encontrar atrás do rangido das dobradiças velhas. Não era uma questão de ciúme.
Eis que a dobradiça se torna música, com seu timbre alto, com seu gemido trabalhoso. E a faca e a arma de fogo saem sabe-se lá de onde (mas haviam sido guardadas sob a roupa dele premeditadamente), e as mãos, e o sangue, e os gritos. Ah, os gritos. ah os gritos...
Mas naquela hora não era só surdez. Era cegueira, era descontrole. A faca subia e descia sozinha (mas a mão que a acompanhava sabia o que estava fazendo).
E a mulher deitada em cima da cama, nua, esfaqueada. O homem vivo, veste a roupa dela, veste, desgraçado, veste antes de morrer. E depois o homem também estava deitado, ao lado da mulher, vestindo sua camisola, morto. morto.
E os servos da casa sabiam, todos sabiam, menos o bebê, que chorava, que chora até agora, que não pára de chorar, não quer parar! Ele sacode o berço com vigor. Não é dele, o choro não é dele, o choro é do homem vestido de mulher. Ele sacode, o homem chora, a voz do bebê é a voz do homem. Por fora o bebê pára de chorar, pára de respirar, mas por dentro o homem ainda chora.
O rangido da dobradiça, o grito da mulher, o choro do homem. Música.
domingo, janeiro 25, 2009
A 2ª Trindade (485, FJL)
Pai.
Diga.
Posso fazer uma pergunta?
Já fez, filho. Pode falar.
Quem é Deus?
...
É uma pergunta idiota?
Se fosse idiota, eu saberia responder.
Então deixa.
Eu sei um pouquinho. A lenda é que Deus é aquele (aquele o quê, pai?) que criou, eu, você, sua mãe, seu avô, as estrelas, enfim. Você já ouviu isso, pela cara de tédio. Seu avô entende mais do assunto, mas posso dizer com segurança que as histórias da Bíblia aconteceram de fato. Mais ou menos.
Como assim?
Eu também fui "expulso" do Paraíso, da infância, do conforto que era a presença de meu pai, seu avô. Assim como você terá que sair de casa um dia.
Mas por quê?
Porque não vamosa aguentar você para sempre. Ai! Estou brincando!
Por quê?
Você conhece a história?
Adão foi expulso porque desobedeceu Deus.
Para você ver como sou bom pai. A verdade é que descobrimos que éramos enganados: não sabíamos que estávamos nus, nem que morreríamos, nem que era preciso trabalhar e inevitável sofrer...
Mas não foi Deus que nos condenou?
Pergunte para seu avô. Eu acho que Deus queria nos proteger, na verdade. Como na história do rei nu. Tinha medo, talvez, que não O amássemos mais se descobríssemos que nos tinha feito imperfeitos.
E nos expulsou?
Ele não podia evitar nosso fim, nem nos proteger.
Mas Deus não é perfeito?...
Todo filho vê seu pai como uma figura perfeita. E quando percebe que sequer seu pai é perfeito...
Ele deixa de ser louvado?
Também. Mas acho que saimos atrás da nossa perfeição, que nossos filhos também vão questionar, como você, que está com essa cara de "não entendi".
Eu... entendo. Mas por que ter filhos estraga-prazeres?
Na Bíblia parece um pouco de vaidade divina... mas não deixe de perguntar ao seu avô, que ele entende mais do que eu.
E o que você acha?
Eu acho que, ahn, aprendemos. A perdoar o pai. A pensar, entender. E perceber que a nossa história sempre se repete, o Universo é criado várias e várias vezes.
Pai?
Diga, filho.
Nunca muda a história?
Filho, posso dizer com segurança que Deus nunca deu tanta satisfação a Adão quanto eu dei a você. Mas o fruto não cai longe.
Diga.
Posso fazer uma pergunta?
Já fez, filho. Pode falar.
Quem é Deus?
...
É uma pergunta idiota?
Se fosse idiota, eu saberia responder.
Então deixa.
Eu sei um pouquinho. A lenda é que Deus é aquele (aquele o quê, pai?) que criou, eu, você, sua mãe, seu avô, as estrelas, enfim. Você já ouviu isso, pela cara de tédio. Seu avô entende mais do assunto, mas posso dizer com segurança que as histórias da Bíblia aconteceram de fato. Mais ou menos.
Como assim?
Eu também fui "expulso" do Paraíso, da infância, do conforto que era a presença de meu pai, seu avô. Assim como você terá que sair de casa um dia.
Mas por quê?
Porque não vamosa aguentar você para sempre. Ai! Estou brincando!
Por quê?
Você conhece a história?
Adão foi expulso porque desobedeceu Deus.
Para você ver como sou bom pai. A verdade é que descobrimos que éramos enganados: não sabíamos que estávamos nus, nem que morreríamos, nem que era preciso trabalhar e inevitável sofrer...
Mas não foi Deus que nos condenou?
Pergunte para seu avô. Eu acho que Deus queria nos proteger, na verdade. Como na história do rei nu. Tinha medo, talvez, que não O amássemos mais se descobríssemos que nos tinha feito imperfeitos.
E nos expulsou?
Ele não podia evitar nosso fim, nem nos proteger.
Mas Deus não é perfeito?...
Todo filho vê seu pai como uma figura perfeita. E quando percebe que sequer seu pai é perfeito...
Ele deixa de ser louvado?
Também. Mas acho que saimos atrás da nossa perfeição, que nossos filhos também vão questionar, como você, que está com essa cara de "não entendi".
Eu... entendo. Mas por que ter filhos estraga-prazeres?
Na Bíblia parece um pouco de vaidade divina... mas não deixe de perguntar ao seu avô, que ele entende mais do que eu.
E o que você acha?
Eu acho que, ahn, aprendemos. A perdoar o pai. A pensar, entender. E perceber que a nossa história sempre se repete, o Universo é criado várias e várias vezes.
Pai?
Diga, filho.
Nunca muda a história?
Filho, posso dizer com segurança que Deus nunca deu tanta satisfação a Adão quanto eu dei a você. Mas o fruto não cai longe.
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