segunda-feira, novembro 13, 2006

Olhar de outros olhos

Em que pensam aqueles olhos;
Pra onde olham aqueles olhos
Que transbordam um mistério
Tão puro e tão real?

Qual a beleza que aqueles olhos contemplam;
Qual a direção de que os olhos se alimentam
De um verde intenso e colorido
Ecoando risos eufóricos de inocência.
Carregam no colo, um filho
Fruto de dois olhares;
Futuro olhar tão profundo.

E os pequenos olhos deitados no colo,
Embora muito cheios de outros olhares,
Agora olham somente a vida nos seios da mãe.

domingo, novembro 12, 2006

Armou-se com um fuzil
Estufou o peito
Marchou contra o inimigo
que de repente, misteriosamente,
abriu um sorriso, baixou as armas
e pediu uma nova receita de bolo

quinta-feira, novembro 09, 2006

A Sirene

Himler não estava bem, estava sentindo uma angústia, uma dor intensa. Não queria fazer aquilo, mas ao mesmo tempo precisava. Eu não quero. Atirou. Eu não queria. — Vá logo!Sentiu uma ânsia, não sabia por que, vomitou. Até a última gota. Caiu no chão. — Vá! Seu Marica! Eu não quero. Rapidamente se levantou. Correu pegou a arma e atirou, atirou, atirou. Jogou-a longe. Ele Definitivamente não ria. Escorreu uma lágrima e ele sentiu o salgado e molhado gosto. Foi atingido por uma pedra ao som de gargalhadas, que ao seu ouvido se transformava no berro de um demônio. Himler correu o quanto pode. Pulou atrás de alguns arbustos. Tirou seu casaco. O frio era congelante, mas ele precisava chorar e berrar, berrar muito, até o final de sua raiva. Ou voz. E assim o fez. Queria muito que todos aqueles bastardos explodissem naquele exato momento. Foi quando ouviu uma Sirene seguida de um estrondo. Sentiu o chão tremer. Imaginou ser uma bomba. A bomba. Aquela que mandaria aqueles ratos fedidos para o ar. Aquela que o vingaria. A Sirene continuava a tocar. Seus ouvidos doíam. Ouviu um barulho estranho. Não sabia o que era. Era como uma esteira mecânica que não parava nunca. Era agonizante. Cada vez mais perto. Dessa vez ouviu um estrondo horrivelmente alto. Um capacete em chamas caiu ao seu lado. Levantou a cabeça em uma súbita e incontrolável curiosidade. Seus olhos quase explodiram. Seu queixo entrou em queda eterna. Havia um tanque de guerra. A Sirene. Enquanto olhava para o tanque, ouviu algumas palavras a sua esquerda. Reconheceu um certo emaranhado de palavras russas. Olhou. Viu. Dois soldados conversavam. Nada entendia o pobre Himler. Olhou para o outro lado. Lá estavam uns quatro corpos jogados no chão. Reconheceu-os rapidamente. Eram quatro, daquele bando de uns quinze ratos. Sentiu um enorme prazer. Superior à qualquer droga já inventada. Era indescritível. Olhou novamente para os soldados. Viu. Foi visto. Fuzilado. Caiu, e em uma enorme tentativa de pensar, apagou.

Felipe Nasser

sexta-feira, novembro 03, 2006

Um Ensaio Científico

Meu Deus! As leis de Murphy estão erradas! (A lei específica aqui tratada será a que profere a seguinte mensagem: “Quando recebe uma ligação e precisa anotar um recado, há apenas três possibilidades: tem caneta, mas não papel; papel, sem caneta; se tem os dois, não receberá ligações).

Esperando usar a lei a seu favor, pôs a caneta e o papel ao lado do telefone, assim ninguém interromperia seu filme. Trim-triiiiiiiiiiiiiiim! Podemos sacar uma ou outra conclusões: 1-a lei de Murphy é sempre um vetor CONTRÁRIO a você, logo não pode ser controlado a seu favor. 2-Ela está errada.

A conclusão 2 está sempre errada, portanto deve ser ignorada. Saberemos o que ocorreu com o pouco afortunado que acreditou nela.
Atendeu o infeliz do outro lado da linha, que queria falar com outro infeliz que não se encontrava.
Recados? O papel e a caneta já estavam lá mesmo... e a tinta acabou no meio do recado. Depois de trocar a caneta pela que estava em ALGUM lugar da casa, o papel rasgou. Os picotes de papel formavam uma seqüência lógica e resumida, tudo se organizava e fazia sentido. Surge A Idéia Literária Mais Genial De Todos Os Tempos O Que Significa Que Vou Viver De Direitos Autorais E Oba Não Preciso Mais Trabalhar (darei nomes mais resumidos para não acabar com sua paciência, belo, jovem e talentoso leitor).

Talvez a conclusão 2 não fosse TÃO absurda. Mas está sempre errada e a deixaremos de lado.

Desligou o telefone (sem agradecer, senão poderia dar bandeira ao infeliz) e anotou a I.L.M.G.D.T.T.O.Q.S.Q.V.V.D.D.A.E.O!.N.V.P.M.T!..Em poucas semanas fez um esboço e cópias de má qualidade, que deu a seus amigos. Um pouco depois disseram “Oh, que legal” de forma que ele percebesse que não queriam magoá-lo. Deviam querer roubar sua I.L.M.G.D.T.T.O.Q.S.Q.V.V.D.D.A.E.O!.N.V.P.M.T!.!

Aqui o nobre, vigoroso e esbelto leitor percebe uma pequena contradição entre a paranóia do autor e sua nova crença, deixando claro que, no fundo, não acreditava na conclusão 2.
Mandou a I.L.M.G.D.T.T.O.Q.S.Q.V.V.D.D.A.E.O!.N.V.P.M.T!. para a editora antes que seus amigos o fizessem. A carta em resposta será reproduzida neste ensaio:

“V. Ilmo. Sr....
(Enrolação)
Nunca vimos algo tão (vamos lá, nº 2!) idiota (nº 1 triunfa, embora seja sem surpresa. Ela está mais do que comprovada, se fudeu. QED.)
(Enrolação. Por que você lê tudo isso?)
Novamente, pedimos perdão (a-há! Toma essa, imbecil!)


A Editora”

Não apenas temos a conclusão 1 confirmada, como surge uma nº 3: “A lei de Murphy é extremamente vingativa, nunca se aproveite dela.”

Se é cético demais para ver a Lei de Murphy como uma pessoa muito filha-da-puta, apresentamos outra prova ao jovial, rico em espírito e cauteloso leitor:

A mesma Editora lançou O Maior Best-Seller De Todos Os Tempos Ou Seja Nunca Mais Vamos Lançar Um Livro Idiota Para Ganhar Dinheiro (ou O.M.B.S.D.T.T.O.S.N.M.V.L.U.L.I.P.G.D., para os íntimos), sob o título de I.L.M.G.D.T.T.O.Q.S.Q.V.V.D.D.A.E.O!.N.V.P.M.T!., exatamente idêntico ao seu livro, e o autor tinha o nome exatamente, embora não completamente, diferente do seu.

Resumindo, a conclusão 1 é mais do que verdadeira, a 2 não vinga e não pode ser levada a sério sem causar danos à saúde e ao telefone, e a 3 é perigosíssima, não mexa com ela. QED.