sexta-feira, outubro 20, 2006

Operário arroz com feijão

Acordou bem cedo como fazia todos os dias, tomou dois goles de café bem quente num copo de requeijão, despediu-se da mulher num monossílabo e saiu da usa quase-casa. Tinha que andar um bocado até o ponto de ônibus. Era cedo, bem cedo, e via seus compadres acordarem tambem, cada um com sua quase-família e sua quase-casa. Pobres. Como ele. Atravessou a rua, pegou o ônibus. Sua cabeça chacoalhava junto com o veículo. Perguntou as horas a um colega que sentava-se ao seu lado mas a prosa nao passou disso, ficou cada um olhando pra um lado, sem ver nada. Seus filhos ficaram em casa dormindo numa quase-cama. Tinham que estudar! estudar muito, pra ser alguém na vida. Moleque preguiçoso leva chinelo. Tem que aprender desde cedo...desde cedo. Era cedo, ele estava quase chegando no serviço, o ônibus parou, desceu, saudou com a cabeça seus colegas, comeu um pedaço de pão. Saco vazio nao pára em pé. Misturou o cimento, ergueu paredes, via surgiro prédio em que trabalhava como uma mãe via nascer o filho. Água, cimento, cal, areia, braço, tijolo, em ritmo de sinfonia. Sinfonia? Samba! Cantarolou com sua voz grave e rouca marcada de Brasil, incompreensível quase para os doutores. E sua voz baixa, como sua cabeça, soou alta, livre. Alto. Livre. Sentindo o vento das alturas no seu rosto, cúmplice dos pássaros que se aventuravam pela construçao. Ali ele era o criador, e todo o mundo abaixo dele, criação sua. Sentou para descansar, enxugou o suor, estava quente. O trabalho marcara vincos em seu rosto. Erosão. E esse memso trabalho, arrependido talvez, tentava preenchê-los de volta. O suor era o cimento e a poeira o tijolo. Comeu seu feijão com arroz ali mesmo, ao lado do Zé e do João. Falaram futebol. O Corinthians tava mal das pernas, o Zé era palmeirense, sorte a dele. Voltaram ao trabalho. O doutô fica sabendo de tudo, e gente preguiçosa nao presta, tem que trabalhar. Quem nao estudou tem que trabalhar. Por isso fazia questão que os meninos estudassem. Ergueu mais paredes, mais dia menos dia e estaria acabado. Sua construção, seu filho. Areia, cal, cimento, suor concreto. Tijolo, cimento, força, trabalho. Trabalho. Cansaço...o dia estava quase no fim e era o dia do doutor pagar. Foi, mais o Zé e o João, junto dos compadres beber uma cachacinha. Gente boa eles. Gostam de samba. A rua iluminada era linda. Iluminada por várias estrelas que brilhavam tanto...As estrelas rodavam. De repente, uma estrela cadente. Duas! iam cair na sua mão. Dizem que estrela cadente dá sorte, será?

- Morreu ontem mais um delinquente bêbado, amor, eu vi ontem à noite, voltando do trabalho...
- Coitado. Passa a salada...

5 comentários:

Maurício disse...

você ficou satisfeito com esse conto e com razão. me deu uma idéia!

Anônimo disse...

achei o blog! =]
hey fico mo legal o conto mesmo moço...
ficou mto legal!
vo ver se consigo passar mais freuqentemente aqui agora!
bjooo

Maurício disse...

antes os outros divulgassem mais o blog...

Srta. Maciel disse...

olha, a Carol por aqui!

Anônimo disse...

Eh por que se você nao ficasse satisfeito com o que escreveu nós todos jah estariamos...
Me encanto com a forma inda que escreve, muitas coisas boas podem nascer do seu texto!!